Mar 2, 2011

Viajar é descobrir o mundo que não temos

O peso que a gente leva..Olho ao meu redor e descubro que as coisas que
quero levar não podem ser levadas. Excedem aos tamanhos permitidos. Já
imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão para ser despachado?


As perguntas são muitas... E se eu tiver vontade de ouvir aquela música?
E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez?


Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou.
Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então,
inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra
nada.


É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer
ausências. E nisso mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo
que não temos. É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o
valor do mundo que nos pertence.


E então descobrimos o motivo que levou o poeta cantar: “Bom é partir.
Bom mesmo é poder voltar!” Ele tinha razão. A partida nos abre os olhos
para o que deixamos. A distância nos permite mensurar os espaços
deixados. Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam
quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue
sendo. Ao ver o mundo que não é meu, eu me reencontro com desejo de amar
ainda mais o meu território. É conseqüência natural que faz o coração
querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou.


É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.
Vida e viagens seguem as mesmas regras. Os excessos nos pesam e nos retiram
a vontade de viver. Por isso é tão necessário partir. Sair na direção
das realidades que nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem ao
contexto de nossas lamúrias... Hospitais, asilos, internatos...


Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne,
mas que de alguma maneira pode nos humanizar.


Andar na direção do outro é também fazer uma viagem. Mas não leve
muita coisa. Não tenha medo das ausências que sentirá. Ao adentrar o
território alheio, quem sabe assim os seus olhos se abram para enxergar de
um jeito novo o território que é seu. Não leve os seus pesos. Eles não
lhe permitirão encontrar o outro. Viaje leve, leve, bem leve. Mas se leve.


Pe.Fábio de Melo

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