Mar 9, 2011

Ei… Cadê o trem?

Essa ultima semana de fevereiro foi bastante corrida. Provas finais, inicio de estagio, mudança, entrega do apartamento da Puvis, etc. Ontem fiz a primeira viagem de mudança. Foram duas malas lotadas. Lyon fazia 8°C em media, e quando desembarquei do trem nevava. A cidade é situada a 650 metros acima do mar, e por isso fas um friozinho muito gostoso.

A residencia é fantastica. La é uma residencia de estudantes de enfermagem do Centro Hospitalar (traduçao livre, no Brasil seria Hospital de Clinicas) da cidade do Puy en Velay. Cheguei no domingo por volta das 11:30 e fiquei até 20:40. Na verdade foi bem simples toda a arrumacao da “coisera” das malas. O chato foi carregar duas malas beeem grandes, mais uma mochila nas costas, todos pesados. A cidade nao é plana como Lyon, fato que dificulta um pouquinho o trajeto.

A tarde mesmo eu ja estava a toa conversando com um amigo no Skype.O apartamento é mais bem conversado em relaçao ao apartamento do CROUS, sem duvidas alguma. O banheiro entao, nem se fala. Alem disso, dei uma sorte danada de pegar um apê de vista para os dois pontos mais turisticos da cidade:

IMG_0718

Voltando para Lyon a viagem nao foi exatamente como deveria acontecer. Devemos fazer baldeaçao de trem na cidade de Saint Etienne. So que a parte mais legal é que a cidade de St Etienne tem TRES ESTACOES. Eu nao sei porque, jurava que tivesse duas. Enfim, desci na segunda estacao, a antepenultima ate o local onde eu deveria fazer a troca de trem e voltar para Lyon. Desci as 22:12. O trem partia para Lyon as 22:18. A primeira pessoa que vi na frente dessa estacao perguntei como chegar ate a estacao principal para poder voltar a Lyon. Detalhe que esse trem de 22:18 era o ultimo do dia. O cara que perguntei mandou eu colocar as malas na parte de tras do Audi dele e fez o possivel, inclusive atravessando sinais vermelhos, para chegar a tempo. O agradeci imensamente e sai correndo com a esperança de ainda pegar o trem a voltar sao e salvo para casa. Mas infelizmente a historia foi diferente, eu o perdi. Isso era 22:23.

Que sensacao horrivel saber que terei que ficar até o outro dia para pegar o proximo trem que partia a 05:30. Liguei para alguns hoteis e albergues, a faixa de preço era entre 65€. Perguntei ao taxista quanto ele fazia para poder me levar a Lyon: 150€. A unica alternativa entao era dormir na Estacao. Me instalei e fiquei pensando na atitude do cara que me levou até a estacao. Pensava o quanto ele foi gentil por fazer aquilo por mim. Pensava tambem o quanto seria bom se alguma pessoa conhecida, ou desconhecida, pudesse me dar um lugar pra dormir. Aquele tipo de pensamento de quando voce esta no ponto de onibus e pensa: “Seria tao bom se algum conhecido passasse aqui e pudesse ter uma caroninha.” Enfim, dito e feito. Eis que chegar um cara e me pergunta se eu vou pegar o proximo trem. Digo que sim, so que seria so no outro dia as 05:30. Ele pergunta onde eu vou dormir, entao. Digo que la mesmo. Impressionado com a situacao ele me convida para ir a sua casa. Disse que poderia dormir la e tambem comer, sem problemas. Foi como se Deus tivesse ouvido minha prece e depois de 2 segundos ele realiza o pedido. No primeiro momento fiquei bastante apreensivo pois, de qualquer forma se tratava de um arabe. E aqui na França eu “aprendi” a ter um pouco de preconceito. Decidi entao de ir, as malas estavam vazias. Ele tomou uma e foi me guiando até sua casa. Era a poucos minutos da estacao. No caminho ele me explicou o porque de estar fazendo isso. Naquele dia de domingo, ele acabara de se mudar a um novo apartamento da cidade de Saint Etienne, onde ele nao conhece ninguem. E como é costume aqui, as pessoas fazem uma “festinha” para comemor esse fato de mudança de casa nova. E como ele nao conhecia ninguem, decidiu procurar novos amigos pela cidade. Por isso, me convidou tao gentimente.

No caminho vimos um grupo de arabes. Ele os abordou e fez a mesma pergunta, os rapazes estavam indo para a sanduicheria naquele momento. Eh claro que eles nao recusaram, comida de graça.

Enfim, fomos todos para o apartamento de Arbid. Enquanto iamos nos aproximando, mais o cheiro bom ia ficando mais intenso. Entao la nos esperava 2 frangos assados com temperos arabes (maravilha). O jantar estava uma delicia, e tambem dava “direito” a sobremesa e cha. SUPER! Conversamos bastante sobre a religiao islã. Sobre Deus, costumes, cultura, futebol, comida, estereotipos, enfim, foi uma conversacao bastante enriquecedora. Os meninos partiram, um deles ate me ofereceu levar em Lyon. Nesse momento minha imagem em relacao aos arabes muda completamente. Pude ver a gentileza, o bom humor e o grande coracao que eles tem.

Depois de jantarmos Arbid, se lembra que amanha (no caso segunda) ele deveria trabalhar. O onibus passava para o pegar as 02:30, para chegar as 04:00, sim, da madrugada. Agora ele se via num “problema” pois tinha me convidado para dormir em sua casa, no entanto, eu nao poderia ficar pois ele nao estaria la para pegar a chave. Seu colega, que trabalha como pedreiro num apartamento ali perto ofereceu o “obra” para eu ficar “hospedado”. E foi assim, o local era coberto e continha um colchao. Perfeito. Antes la do que fora da estacao com vento e temperatura de 3°C.

E assim termina essa noite de domingo, a qual eu nao arrependo de ter perdido o trem para Lyon.

Mar 2, 2011

Viajar é descobrir o mundo que não temos

O peso que a gente leva..Olho ao meu redor e descubro que as coisas que
quero levar não podem ser levadas. Excedem aos tamanhos permitidos. Já
imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão para ser despachado?


As perguntas são muitas... E se eu tiver vontade de ouvir aquela música?
E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez?


Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou.
Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então,
inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra
nada.


É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer
ausências. E nisso mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo
que não temos. É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o
valor do mundo que nos pertence.


E então descobrimos o motivo que levou o poeta cantar: “Bom é partir.
Bom mesmo é poder voltar!” Ele tinha razão. A partida nos abre os olhos
para o que deixamos. A distância nos permite mensurar os espaços
deixados. Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam
quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue
sendo. Ao ver o mundo que não é meu, eu me reencontro com desejo de amar
ainda mais o meu território. É conseqüência natural que faz o coração
querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou.


É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.
Vida e viagens seguem as mesmas regras. Os excessos nos pesam e nos retiram
a vontade de viver. Por isso é tão necessário partir. Sair na direção
das realidades que nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem ao
contexto de nossas lamúrias... Hospitais, asilos, internatos...


Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne,
mas que de alguma maneira pode nos humanizar.


Andar na direção do outro é também fazer uma viagem. Mas não leve
muita coisa. Não tenha medo das ausências que sentirá. Ao adentrar o
território alheio, quem sabe assim os seus olhos se abram para enxergar de
um jeito novo o território que é seu. Não leve os seus pesos. Eles não
lhe permitirão encontrar o outro. Viaje leve, leve, bem leve. Mas se leve.


Pe.Fábio de Melo